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Brasil - 5 de outubro de 2016

Rio Grande do Sul: ‘bomba-relógio’ de suicídios vem sendo causada por Agrotóxicos, depressão e dívidas.

 

A família de agricultores acordou cedo e tomou chimarrão naquela manhã quente de 21 de dezembro de 2013. A mãe fez bolinhos para o lanche e iniciou o preparo da lentilha para o almoço. Mas, quando Simone Rovadoski, de 39 anos, saiu da casa para ajudar o marido José Dell Osbel, de 44 anos, no cultivo dos 48 mil pés de tabaco da família, encontrou-o morto. “Não pude evitar que as crianças vissem. Foi um horror”, relembra Simone sobre o suicídio do marido, em Gramado Xavier, a 156 km de Porto Alegre.

“Ajuda a salvar meu pai, ajuda!”, pedia o filho do casal, na época com 13 anos, para curiosos que se aproximavam. Osbel passou a integrar as estatísticas que fazem do Rio Grande do Sul o Estado com mais casos de suicídios no Brasil: 10 a cada 100 mil habitantes. A taxa é praticamente o dobro da brasileira (5,2 por 100 mil em 2012, segundo dados do Ministério da Saúde) e próxima da taxa mundial (11,4 por 100 mil, segundo a Organização Mundial da Saúde).

A conexão entre suicídio e plantadores de fumo é apontada em diversos estudos científicos. Um relatório da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa gaúcha apontava, em 1996, que 80% dos suicídios da cidade de Venâncio Aires, a maior produtora de tabaco do Estado, eram cometidos por agricultores. O mesmo estudo mostrava aumento nos suicídios quando o uso de agrotóxicos era intensificado.

Segundo uma pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o uso de agrotóxicos, como os organofosforados, aumenta as chances de depressão dos agricultores. Em 2014, 20% de cem fumicultores entrevistados sofriam de depressão, segundo a UFGRS. O quadro depressivo por exposição aos venenos, somado a fatores sociais e culturais, pode evoluir para o suicídio.

A relação é contestada pelo Sindicato da Indústria do Tabaco local (Sinditabaco), que diz que “atrelar casos de suicídio ao uso de agrotóxicos na cultura do tabaco é inconsistente”. O Rio Grande do Sul tem 73.430 famílias (mais de 577 mil pessoas) que colhem 255 mil toneladas de tabaco anualmente, de acordo com a Afubra (Associação dos Fumicultores do Brasil).

Noticia10/bbc

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