Região: FÍBRIA, crimes ambientais, fraudes, grilagem de terras e lavagem de dinheiro.
Em 2008, saiu na imprensa que a empresa Aracruz Celulose havia perdido R$ 4,6 bilhões em operações especulativas de alto risco, a Aracruz anoiteceu cacifada e amanheceu quebrada, com quase cinco bilhões se esvaindo pelo ralo do cassino internacional, poderia ser o fim da companhia. Mas não foi o que aconteceu, Icebergs não naufragam facilmente, principalmente quando amparados pela maternal e condescendente mão do Estado, nesse caso, representado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES, que injetou dinheiro na Aracruz e tornou-se o principal acionista da maior operação de celulose branqueada do mundo, na região que compreende o norte do Espírito Santo e o sul da Bahia.
O que era para ser o final da história torna-se o começo de tudo. O começo de uma das mais bem montadas operações de greenwashing que ocorreram desde que o termo foi inventado, alguns anos atrás. Empresas irresponsáveis fazem isso para mostrar uma imagem socialmente justa e ecologicamente sustentável. A empresa diz que é “verde” e gasta fortunas para legitimar isso, mas age exatamente ao contrário, violando sistematicamente a lei, a Constituição, a ética empresarial, as boas práticas socioambientais. Os personagens principais dessa reportagem são os seguintes: Votorantim, Fibria (antiga Aracruz), Veracel, StoraEnso e BNDES.
A cadeia produtiva — controlada por essas empresas e que tem como maior investidor o BNDES— está ligada, segundo documentos levantados pela reportagem, aos crimes como: Violações dos direitos humanos; lavagem de dinheiro; sonegação de impostos; corrupção; fraude na certificação ambiental FSC; fraude em licenciamentos ambientais; fraude em processos de arrendamento de terras; produção de documentos forjados; grilagem de terras; uso de policiais como vigilantes particulares; devastação de mata nativa; assoreamento de rios; ocupação ilegal de terras indígenas; ocupação ilegal de terras da União; ocupação ilegal de terras quilombolas. “O que eu vejo é a ocorrência de crime organizado” disse o coordenador do Ministério Público em Eunápolis, João Alves Neto, em entrevista concedida ao jornalista J. Alencar em março de 2011.
Para entender como essa rede criminosa opera e como ela é financiada pelo BNDES, precisamos voltar a 1960, quando a Aracruz-Fibria chegou ao Espírito Santo para iniciar o plantio de eucalipto. Era a época do chamado milagre econômico, entre 1969 e 1973, quando o País experimentou um forte crescimento. O Brasil, nesse período, era comandado pelo ditador Garrastazu Médici, general do Exército.
A Aracruz-Fibria encontrou terreno fértil para operar nesse cenário de expansão econômica e ditadura militar. Protegida pelo Estado, estimulada pela linha dura do Exército, a Aracruz-Fibria protagonizou um interminável ciclo de práticas criminosas, de devastação ambiental e de sistemáticas violações aos direitos humanos. Nessa época, muita gente foi expulsa de sua terra na base de ameaça, com ouso de força bruta e presença de oficiais fardados do Exército. Estrutura que no início era financiada pelo antigo BNDE e que agora é financiada pelo BNDES.
No norte do Espírito Santo, o cenário se tornou grave em 1978, dez anos depois de iniciado o plantio de eucalipto. Foi quando a Aracruz-Fibria inaugurou a Fábrica “A”, a sua primeira planta. Em 1991, a Fábrica “B” colocou a empresa como líder mundial na produção de celulose branqueada. Em 2000, com a compra de 50% da Veracel, a Aracruz ultrapassava as divisas do Espírito Santo e chegava à Bahia. Em 2002, quando foi inaugurada a Fábrica “C”, começaram a sair as primeiras notícias sobre uso de violência contra indígenas, agricultores e quilombolas.
A empresa perdeu sucessivas ações na justiça, que determinavam a devolução das terras, conquistadas na base da força bruta, aos verdadeiros proprietários. Foi quando a empresa protagonizou uma desesperada tentativa de colocar a opinião pública contra as comunidades tradicionais: iniciou uma maciça distribuição, nas escolas, de cartilhas “dizendo” que os índios da região não eram índios de verdade. Foi um período de conflitos violentos e de sucessivas mortes pelo uso indiscriminado de agrotóxicos nas plantações de eucaliptos.
MARQUES CASARA, observatório social.
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