Racionais celebra 25 anos com hinos, champanhe e público diversificado
Há 25 anos os autointitulados ‘quatro pretos mais perigosos do Brasil’ fazem história como grupo de resistência e alicerce do rap no Brasil. A turnê de comemoração que os Racionais MC’s trouxeram para São Paulo, em seu habitat natural, na noite de sábado (6), resgatou verdadeiros hinos da carreira, reuniu novos nomes do rap no palco e fez a alegria de um público diversificado — dos manos aos playboys, dos “jalecos e bombetas” aos saltos altos de algumas mulheres.
Sobre a saraivada de hits, como “Capítulo 4 Versículo 3”, “Vida Loka pt.1”, “Eu sou 157” e “Jesus Chorou”, cantadas em uníssono e com fervor pela plateia, os Racionais brindaram com uma garrafa de champanhe com os fãs que eles conquistaram na caminhada. Desde os companheiros da quebrada, que o seguem desde as primeiras bombas em formatos de versos sobre a polícia e a desigualdade racial, ao público de classe social mais alta, mas que também tiveram corações e mentes arrebatadas por suas músicas, mesmo tendo realidades diferentes.
Em “Da Ponte Pra Cá”, uma das primeiras do show, onde Mano Brown versa sobre essa dicotomia — “Playboy bom é chinês, australiano, Fala feio e mora longe não me chama de mano” –, todos, sem distinção, cantaram de cor.
É um fenômeno que, depois de muitos anos, os Racionais abraçaram. Hoje, o grupo tem um discurso mais apaziguador — neste show, nenhum integrante falou com a plateia — e opta por incluir clubes mais abastados na agenda de shows. A escolha de uma casa de shows grande, como o Citbank Hall, serviu para esbanjar uma boa produção — iluminação, bicicletas no palco (as low-rider bikes típicas dos rappers), um dancarino vestido de bobo da corte e máscara de caveira, e um telão de led que mostrava os prédios em São Paulo à noite. É a “Terra de arranha-céu” que Brown descreve em “Negro Drama”.
Na plateia, pessoas de todas as idades. Desde o senador Eduardo Suplicy, conhecido fã do grupo, a André Coquieri, 19, morador da zona leste, que curtiu o show ao lado dos pais. Ele garantiu: “Eles também gostam”. A mãe, Vanda, explicou: “Gostamos das batidas e as letras, por que falam sobre inferioridade e desigualdade”, disse.
Mano Brown não escondeu o sorriso do rosto quando viu a casa lotada e os fãs com as mãos para cima, mesmo com o show começando quase três horas depois do horário divulgado. Ao apresentar músicas que há um tempo não apareciam nas setlists, um KL Jay inspiradíssimo deu uma nova batida, mais funk, para verdadeiros hinos como “Um Por Amor, Dois por Dinheiro”, “Diário de um Detento” e “Mano na Porta do Bar”, evidenciando, talvez, um caminho mais dançante para o futuro, como já vem sendo no projeto solo de Brown.
Antes dos Racionais subiram ao palco, uma geração influenciada pelos discos históricos do grupo, como Emicida, Flora Mattos e Rincon Sapiência, fizeram o esquenta, reverenciado a trajetória de seus ídolos. No final, em “Vida Loka Pt.2”, todos eles subiram ao palco, enquanto duas garrafas de champanhe eram estouradas em direção a plateia. No telão, pela primeira vez, o sol nascia por entre os arranha-céus
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