Pinheiros: Deserto verde avança com meias verdades e múltiplas pequenas intervenções
Se no início da década de 1970 a Aracruz Celulose (hoje Fibria) derrubou milhares de hectares de Mata Atlântica primária com seus correntões, hoje, meio século depois, a empresa mantém uma estratégia já estabelecida há alguns anos, de conseguir licenciamentos ambientais para pequenas áreas em seu nome ou em terras arrendadas de pequenos e médios proprietários rurais.
Um exemplo está no comunicado divulgado pela Aracruz Celulose nessa segunda-feira (8), dando conta de que o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf) concedeu a Licença Prévia (LP) nº 281/2017 para a atividade de Silvicultura com plantio de 115 hectares de eucalipto na Fazenda Bonita II, no município de Pinheiros, norte do estado. Foi o primeiro comunicado do tipo este ano, que deve ser seguido por muitos outros, sobre áreas semelhantes ou um pouco maiores.
Aloisio Souza da Silva, da coordenação estadual do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) em Pinheiros, conta que as empresas do setor sucroalcooleiro não fazem investimento em áreas pequenas e isoladas, em função da logística de plantio e colheita, que envolve despesas altas com deslocamento de máquinas e pessoal, e manutenção de equipamentos. Sobre licenças para áreas pequenas, como essa primeira, estão próximas de áreas já plantadas ou mapeadas para serem plantas futuramente, seja na mesma propriedade ou em fazendas vizinhas.
E assim, de pequenas em pequenas intervenções, tanto a Aracruz quanto a também papeleira Suzano, instalada alguns anos depois na região, continuam ampliando o deserto verde, mantendo o discurso mentiroso de que seus eucaliptais são floretas e que são benéficos para o solo. “Por que então, em Conceição da Barra, há tantos córregos que não correm mais onde tem plantações de eucalipto?”, questiona o líder camponês.
Se, de fato, o eucalipto consome menos água do que as florestas Atlântica e Amazônica, esse dado numérico, por si só, não se traduz em proteção ambiental de fato, para o solo, a água, o clima, a biodiversidade. “A cada sete anos as plantações são cortadas”, aponta Aloísio, ao contrário de florestas nativas ou plantios de árvores que não são cortados e, depois de um determinado período, com a chegada do clímax de amadurecimento daquele ambiental, o sistema retorna ao seu equilíbrio.
Os cortes sucessivos, porém, vão promovendo seguidas investidas dos plantios sobre todos os nutrientes e água do solo, levando-o à exaustão. “Já tem muito eucaliptal abandonado aqui na região, onde não dá nem formiga, muitos desertos”, relata. Esse é um dos motivos, explica, porque as papeleiras Aracruz e Suzano têm cada vez mais investido em arrendamento do que em compra de fazendas. “Assim o problema da desertificação fica com o proprietário e não com ela”, diz.
Noticia10/seculodiario
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