Mucuri: ouvidor do Estado da Bahia, Yulo Oiticica, esteve no “picadão da Bahia” e ouviu relatos de abandono e pobreza criadas pelo eucalipto.

“Nunca imaginei que eles um dia lamentariam a falta daquele trabalho insalubre, da produção artesanal do carvão, da forma desumana com que eram submetidos e explorados por criminosos de uma cadeia produtiva tão cruel e deplorável” Essa foi uma das poucas frases usadas pelo ouvidor geral do Estado da Bahia, Yulo Oiticia, ao comentar os resultados de sua visita a comunidade rural do Rio do Sul na região conhecida como “picadão da Bahia” no município de Mucuri. Yulo esteve presente em uma reunião com moradores das comunidades do Rio do Sul, Camaruji e Oliveira Costa, atendendo a um convite feito junto a ouvidoria geral do Estado para acompanhar alguns desmandos promovidos pela silvicultura do eucalipto na região.

A região conhecida como “Picadão da Bahia” vem sofrendo há muito tempo com a falta de oportunidade de empregos, aumento da pobreza extrema, abandono por parte das autarquias e descumprimento das responsabilidades sociais por parte das empresas produtoras de papel e celulose presente na região Fibria e Suzano. A silvicultura vem promovendo um verdadeiro “calote social” com aquelas comunidades e todos esses transtornos vem sendo motivados devido a uma cobrança da comunidade por geração de emprego e renda, visto que desde a “famigerada” operação cruzeiro do sul que derrubou todos os fornos e proibiu a prática de fazer carvão no final de 2011 gerou um desemprego em massa para a região.

A convite do assessor de juventude do município de Mucuri, o comunicador Neuzivan dos Santos, o ouvidor foi conhecer de perto uma realidade antes só sabida por meio de indignações e tentativas de traduzir superficialmente as condições sub-humanas vividas por uma comunidade de aproximadamente 300 famílias espalhadas por diversas comunidades. Em uma reunião muito participativa os moradores concentraram suas principais queixas ao Grupo de Trabalho (GT) do Picadão da Bahia foi criado, em Maio de 2011 para desenvolver alternativas de emprego e renda para aquelas comunidades que Passados cinco anos, o que se pode observar é a certeza de que tais iniciativas nunca passaram de verdadeiros engodos midiáticos travestidos de benefícios.

Presidente da associação do Rio do Sul, senhor Genilson (popular Carioca), disse que é necessário um entendimento do que foi que deu errado e quais as motivações desse abandono da comunidade por parte dos envolvidos no projeto, com uma extensa pauta de cobrança Genilson fez um comovente desabafo, “não queremos nada que não é nosso e que não foi acordado, tudo o que foi colocado como condição para que comunidade participasse do projeto a comunidade atendeu, ninguém mais trabalha com carvão, e agora cadê o ministério público e as empresas? Queremos uma resposta urgente” finalizou “Carioca”. Outro presidente de associação presente, o senhor Célio, presidente da associação de Costa Dourada foi bem enfático em suas palavras, “estou feliz por que pela primeira vez o Estado da Bahia veio aqui, esperamos que nossas dificuldades agora também sejam vistas por nossas secretarias e pelo governador da Bahia”.

Para Neuzivan dos Santos que vem acompanhando desde 2011 as dificuldades vividas pelas pessoas daquela região denunciando as mazelas e os desmandos através da imprensa regional, o momento de expor as problemáticas já foi superado, “ precisamos para além de denunciar os problemas apresentar as soluções, esse é o papel da comunicação social em sua essência, por isso estamos desde o final das conferencias de juventude do ano passado trabalhando em ações que visam melhorar a vida dessas pessoas, eu não tenho como descrever esse sofrimento que é só deles, por isso viabilizamos a vinda de Yulo aqui, é o governador presente, agora é tocar as demandas aqui levantadas e em conjunto tentar encontrar os melhores caminhos” finalizou Neuzivan.

Visivelmente incomodado com a realidade encontrada na região, o ouvidor geral do Estado, Yulo Oiticica fez um comovente desabafo em sua página no facebook, chegando até usar Castro Alves Yulo tentou traduzir seu sentimento de indignação, “Estive hoje com pais e mães de família que disseram: “vivíamos das carvoarias e assim, com trabalho, dignidade e pão na mesa, hoje com fome, vivemos das graças de Deus”! Nunca imaginei que eles um dia lamentariam a falta daquele trabalho insalubre, da produção artesanal do carvão. Como Ouvidor do Estado, vou mediar a busca de soluções para os tantos problemas vividos por esta gente. Como Militante dos Direitos Humanos, minha indignação contra a força bruta do capital que mata em nome do lucro e denunciarei para o mundo a dor dos pequenos que aqui gritam por dignidade, justiça e pão”.