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Tecnologia - 31 de janeiro de 2015

MG: Invenção mineira ilumina casas em mais de 15 países

 

Preocupado com o apagão do início dos anos 2000, o mecânico Alfredo Moser, de 63 anos, inventou um sistema sustentável de iluminação que hoje já é utilizado em​ mais de​ 15 países. Chamada “Lâmpada de Moser”, a invenção necessita apenas de uma garrafa pet, água potável e “duas tampinhas” de água sanitária ou cloro. Hoje, aposentado, o inventor instala a lâmpada em casas de moradores de Uberaba, no Triângulo Mineiro, onde mora. “Eu cobro um dinheirinho, mas tem gente que é muito carente, né, muito humilde, aí eu nem cobro ​nada ​não”, conta​.

Em 2001, o assunto nos jornais e na televisão era o apagão. ‘“Eu fiquei preocupado, queria fazer uma luz pras pessoas. Mas eu não sabia como começar. Até que um dia minha mãe me chamou na casa dela e minha prima estava com uma garrafinha de coca cola, daquelas pequenas de plá​s​tico, meio torcida, em cima da mesa. E quando bateu um sol clareou muito a parede. Aí eu pensei ​’já sei, vou começar por aí​’​”, conta.

E foi assim que, em 2002, ele pegou uma garrafa pet, colocou água, quebrou umas telhas em sua casa, ​encheu​ a garrafa com água do ribeirinho – potável, na época – e colocou “duas tampinhas de água sanitária pra água n​ão esverdear”. A partir deste momento, Moser descobriu a luz e viu que ele poderia ter a casa iluminada durante o dia sem precisar de energia elétrica.

A lâmpada de Moser tem em torno de 60 Watts e ilumina os ambientes durante o dia utilizando apenas a luz do sol. É um sistema de refração de luz solar que tem validade de pelo menos 20 anos. “Aqui em casa as minhas lâmpadas de garrafa já tem uns 15 anos sem a gente nem precisar mexer nelas”, diz o inventor.

“Nas Filipinas o povo está usando mais do que aqui. Já me chamaram para ensinar isso em alguns lugares, mas eu só fui na Coreia do Sul até hoje, no ano passado, pra dar uma palestra na embaixada brasileira lá. Foi muito bonito, porque eu vi umas moças chorando lá, uns rapazes também, emocionados. A gente fica feliz né? Eu não conversei muito com eles não, porque eu falo uma língua e eles falam outra. Mas a gente fica satisfeito mesmo assim, né?”, conta o mecânico.

Em 2011, a ideia foi adotada por uma ONG filipina e acabou se transformando no projeto “Liter of Light”, e se espalhou por mais de 15 países que sofrem com a falta de iluminação pública. Segundo Moser, o retorno não é financeiro, mas é satisfatório. “Eu fico vendo os jovens aprendendo a instalar isso aí, ganhando um dinheirinho. Fico ensinando os meninos. Tá dando emprego pros outros e isso é muito bom. Um amigo meu disse que já viu até os índios usando isso na oca deles. Mas lá eles não deixam tirar foto, se tirar, os índios arrancam o filme fora”, diz.

“Parece que lá nas Filipinas o povo é muito pobre mesmo, e tem gente que manda e-mail no computador, meu filho é que mexe com isso, e diz que lá a luz custa o olho da cara e que as crianças não podiam nem estudar porque a casa deles não têm janela, só porta, e é tudo escuro, né? Aí nesse e-mail eles falaram que tem um menino lá de 12 anos que agora já tá até estudando por causa disso”, completa.

Moser não recebe nada pelo invento, mas conta que recentemente procurou ajuda de algumas pessoas para tentar patentear a criação junto aos órgãos públicos. ​O problema é que é preciso investir ​um alto valor para apresentar um protótipo, e a burocracia estagnou o processo.

Ele também desenvolve um projeto no qual placas solares poderiam captar a luz durante o dia e iluminar a noite, mas ele ainda não encontrou alguém para bancar o projeto. Mesmo assim, a cabeça não para de funcionar. “A pessoa que inventa num ganha nada, quem ganha são os outros né? Igual o Santos Dummont que inventou o avião”, diz.

“Agora tem o problema da água, né? Estou com um invento na cabeça aí, quem sabe esse ano ou ano que vem eu consiga fazer funcionar. Mas aí tenho que chamar o governo pra me ajudar, pra instalar. É um invento que vai servir pra não faltar água” completa. “Enquanto eu existir na face da terra eu vou inventando. Inventei outro negócio também, que são vassouras feitas com aquelas fitas de embalar caixote, sabe? Mas essa ​invenção é pra dar mais serviço pro povo”, brinca.

Como fazer

É necessário furar uma parte do telhado (de amianto ou de barro) para encaixar a garrafa, que deve estar cheia de água portável. “Antes a gente fazia com a água do ribeirinho, que era limpa, mas agora já chega água tratada na casa de muita gente”, explica. Aí coloca-se a medida de duas a quatro tampinhas de garrafa pet com cloro ou água sanitária, para mantê-la limpa e evitar os mosquitos da dengue. “É porque as vezes, com o tempo, a tampa solta e fica a garrafa aberta pra fora do telhado, né, aí pode dar dengue se não tiver cloro”, diz o inventor.

A tampa, então​,​ é vedada assim como a garrafa​ no telhado​, de forma que metade dela fique para fora do telhado, onde irá receber a luz, e a metade de baixo dentro da casa, que irá refletir essa luz. “Aí você pode colocar umas quatro no banheiro, que vai iluminar bastante, mas num põe elas muito perto da parede não, põe um pouco distante. Teve uma mulher que falou comigo que ia colocar corante pra fazer várias luzes coloridas, e também dá certo. Pode pegar garrafinha colorida também, fica bem bonito. Ilumina muito, até em dia de chuva. Mas claro que não ilumina tanto igual quando faz sol. Ilumina assim como se fosse uma claraboia,​ ​sabe?”.

E dá para adaptar a ideia a qualquer material ou a qualquer telhado, “mesmo aqueles telhados mais inclinados igual avião subindo”, como diz o inventor. Às pessoas leigas e sem conhecimento mínimo sobre o assunto, como a repórter desta matéria, Moser dá a dica: “Acho melhor você pedir para outra pessoa te ajudar, viu, vai numa marmoraria, essas lojas que vende​m​ tanque, pia, leva a telha se for de barro, ​e pede pra ele furar e colocar a garrafa pra você. Eles fazem isso rapidinho, aí eles vão vedar direitinho com uma massa plástica, fica certinho. Aí depois é só você levar a telha de volta e encaixar de novo no telhado”.

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