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Brasil - 11 de julho de 2019

Maia se fortalece na disputa de poder com Bolsonaro


Rodrigo Maia sobe à tribuna, mira o plenário da Câmara e pede para que alguns deputados abram um espaço para que ele possa ser visto por todos e, principalmente, pelas câmeras. Ajeita a gravata, checa se o paletó está alinhado e dispara um equivocado cumprimento de “boa tarde” aos senhores e senhoras deputados. Já passava das 20h. Ele sorri e diz um correto “boa noite”. Um inusual silêncio toma conta do plenário. Nem do lado dos partidos de centro e de direita nem dos de esquerda ouve-se qualquer protesto. É raro um presidente da Casa ocupar a tribuna para fazer discursos. Mais incomum ainda é um deputado receber tanta atenção de seus nobres pares.

O discurso feito por Maia na noite desta quarta-feira era para saudar a reforma da Previdência que estava em vias de ser aprovada pelo acachapante e surpreendente placar de 379 a 131. Foi uma reforma mais com a cara da Câmara, e do deputado pelo Rio de Janeiro, do que com a do presidente Jair Bolsonaro (PSL), apesar de ter sido enviada pelo Executivo. O próprio Bolsonaro reconheceu e, em seu Twitter, agradeceu o empenho do parlamentar.

O tamanho da força de Maia foi notado nos discursos de quem lhe antecedeu. Vários parlamentares o elogiavam. O líder do PSL, Delegado Waldir, o chamou de “grande condutor dessa reforma”. “Sem essa pessoa, com certeza, não teríamos chegado a esse momento tão importante”. Raramente ouvia-se o nome de Bolsonaro. Outro indicativo a favor dele: a atual reforma teve mais votos do que a promovida em 2003 pelo popular Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tinha uma considerável base de apoio na Câmara dos Deputados e obteve 358 votos. A aprovação de propostas de emendas constitucionais, como essas, depende de 308 votos dos 513 deputados – três quintos ou 60% da Casa. No caso da PEC 06/2019, a votada nesta quarta-feira em seu primeiro turno, houve um apoiamento de 74% dos parlamentares.

No caso do atual Governo, o que mais chama a atenção é a ausência de qualquer base parlamentar por não concordar com o presidencialismo de coalizão que imperava no país desde a redemocratização, no fim dos anos 1980. Na política, os vácuos são ocupados. Experiente, em seu sexto mandato, Maia assumiu esse protagonismo. Em seus 14 minutos de discurso, destacou a proeminência da Câmara e sinalizou que, dificilmente, ela passará a ter um papel secundário, ao menos não neste Governo.

“Sem nenhum interesse em tirar prerrogativa do presidente da República, mas durante, 30 anos, tiraram as prerrogativas dessa Casa, diminuíram essa Casa e o nosso papel é recuperar a força da Câmara e do Congresso Nacional”, afirmou.

Maia ainda mandou recados diretos a Bolsonaro e aos seguidores. “Não haverá investimento privado, com reforma tributária e reforma previdenciária, se nós não tivermos uma democracia forte. Investidor de longo prazo não investe em país que ataca as instituições”. Em diversas ocasiões, apoiadores do presidente da República, estimulados por ele próprio, acabaram se excedendo nas críticas ao Parlamento e ao Judiciário. Nas redes sociais e nos protestos a favor do Governo é normal encontrar quem defenda o fechamento do Congresso ou do Supremo Tribunal Federal. Nesse sentido, Maia dirigiu uma fala direta ao chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, a quem chamou de “amigo”. “Onyx, nós vamos precisar construir daqui pra frente uma relação diferente, onde o diálogo e o respeito prevaleçam em relação a qualquer tipo de ataque”.
Noticia10/elpais

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