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Espírito Santo - 15 de fevereiro de 2018

ES: Damballa, um coletivo de cinema negro no Estado.

Não é preciso ser especialista para perceber que o cinema é uma arte predominantemente produzida, dirigida e atuada por brancos no Brasil, com pouquíssimo espaço para a produção de cineastas negros. Os dados da Agência Nacional de Cinema (Ancine) explicitam essa realidade: em 2016, 75,4% dos longa metragens nacionais foram dirigidos por homens brancos, 19,7% por mulheres brancas, e apenas 2,1% por homens negros. Naquele ano, nenhum filme foi dirigido ou roteirizado por mulheres negras.

É buscando visibilizar esse problema e apontar saídas para resolver essa disparidade, que foi criado o Damballa, primeiro coletivo de cinema negro no Espírito Santo. “O motivo de criar o coletivo, primeiro, está em consonância com a emergente produção audiovisual de realizadores negros e negras que ocorre ineditamente no país. Nela, o Espírito Santo tem dado sua contribuição timidamente. Nesse sentido, a proposta do coletivo é levantar a bandeira do Cinema Negro aqui”, diz Adriano Monteiro, mestre em Comunicação Social e pesquisador de cinema negro.

Mas não basta produzir, o grupo quer ir além, extrapolar os limites criativos estéticos e temáticos, que muitas às vezes tentam enquadrar os cineastas negros, trabalhando o cinema de gênero e outras vertentes como o realismo fantástico, afrofuturismo e terror.

O nome Damballa se refere à uma divindade do Vodu, religião de matriz africana, considerada a loa (orixá) da criação e das energias positivas da vida. “Como o Coletivo Damballa é um grupo de criação artística voltado para o realismo fantástico no cinema, acreditamos que esse nome atende tanto a uma celebração das tradições africanas quanto uma celebração das forças mágicas que movem a Terra”, explica Adriano.

O grupo também apresenta um caráter político, no sentido de lutar por mais espaços para os produtores negros, incluindo o debate sobre implementação de políticas de ações afirmativas nos editais de fomento à cultura do Estado. “Hoje é possível identificar realizadores negros, principalmente jovens e de início de carreira, porém, pouquíssimos conseguiram ter acesso aos editais de fomento do Estado. Sendo sincero, eu só conheço dois cineastas negros que tiveram suas obras incentivada pela Secult [Secretaria de Estado de Cultura]”, constata. “Isso impacta também na representação negra em nossos filmes. Para um estado que tem mais de 50% da sua população afrodescendente, precisamos alterar este cenário”.
Noticia10/ascom

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