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Espírito Santo - 3 de novembro de 2016

Conceição da Barra: sem acusação de fato, resistência a Fibria é o que mantém jovem quilombola preso.

 

Acusação, de fato, não há nenhuma contra Evaldo Jerônimo Florentino, 23 anos, que também não tem nenhuma passagem pela polícia. Mesmo assim, o jovem agricultor, filho de uma das mais respeitadas lideranças políticas e culturais do território quilombola do Sapê do Norte, Berto Florentino, continua preso em São Mateus, desde a quarta-feira passada (26).

A Polícia alega que a prisão faz parte das investigações sobre o assassinato de um cabeleireiro em Pedro Canário e que Evaldo se pareceria com uma das pessoas presentes num restaurante onde a vítima se encontrava momentos antes do crime. Apenas suspeitas, nenhuma acusação de fato, pois não há nenhuma identificação pessoal dele com autor de crime, como apontam familiares.

Nessa quinta-feira (3) foi feita coleta de digitais para o exame papiloscópico. O prazo máximo para a divulgação dos resultados é de trinta dias e o prazo máximo regimental para prisões temporárias com fins de investigação, como a dele, de 60 dias. A família, no entanto, que mora na comunidade quilombola de São Domingos, em Conceição da Barra, ainda não sabe por quanto temo Evaldo continuará detido na delegacia de São Mateus.

“Nossa luta é desde nossos antepassados, nossos bisavós, que trabalhavam como escravo pra esse povo. Querem fazer de novo a escravidão. Acabaram com a nossa água, com os peixes, com a nossa cultura”, relata Altiane Blandino, presidente Associação de Comunidades Rurais Quilombolas e morador de São Domingos, mesma comunidade de Evaldo e Berto.“O Berto já foi muito castigado”, afirma Altiane, citando várias situações de violência da Polícia, Militar e Ambiental contra a família do contraguia do Ticumbi de Itaúnas. Duas delas já foram julgadas pela Justiça Federal, que determinou indenizações de R$ 200 mil e R$ 100 mil, mas a empresa recorreu e a comunidade ainda não conhece o resultado final.

O presidente da Associação das Comunidades Quilombolas conta que a empresa chegou a afirmar, na audiência, que os militantes do Sapê do Norte estavam querendo tomar as terras dos moradores do Chiador, quando ele saiu em defesa, explicando que quem invadiu e roubou a terra dos quilombolas foi a Aracruz Celulose, apontando um mapa, reconhecido pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), que estava pregado na parede, mostrando as terras devolutas usurpadas dos quilombolas pelas monoculturas de eucalipto, cana-de-açúcar e mamão. “Acabei com a conversa. Promotor e todo mundo bateu palma”, recorda.

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