As grandes fortunas fogem do Brasil (os pobres ficam)
Roberto Figueiredo, de 43 anos, largou tudo. Esse engenheiro de formação com jeito para os investimentos levou sua mulher, seu trabalho e sobretudo seu dinheiro para longe do Brasil, da sua São Paulo natal, para irem morar em Miami. “O panorama para investir aqui está péssimo”, reclama, franzindo a testa sob um sol escaldante no terraço de um shopping no Itaim Bibi, uma área rica do centro expandido paulistano. Recentemente, completou a documentação para solicitar visto de residência permanente nos Estados Unidos. Agora, é questão de esperar e ir embora. Em parte, está cumprindo seu sonho desde que, adolescente, fez um intercâmbio no Novo México. E em parte reage a um grande catalisador: “A situação deste país contribuiu para a minha decisão”, conta.
A saída de capital de um país é o primeiro sintoma de que algo não vai bem, e o Brasil está perdendo grandes fortunas como a de Roberto a um ritmo cada vez mais desenfreado. Em 2017, 2.000 milionários abandonaram as fronteiras nacionais, segundo um estudo da New World Wealth: é a cifra mais alta já registrada no país, e pela terceira vez o Brasil figura entre os 10 países que mais milionários perdem no mundo. A sangria já soma 12.000 proprietários de mais de um milhão de dólares desde 2015, ano em que começou a se consumar o fracasso brasileiro e o que parecia um paraíso revelou-se justamente o contrário. A economia do país enterrou-se na pior recessão em décadas, a política se revelou incapaz de melhorar a situação, e a violência nas ruas começou a ser insuportável e maior a cada ano (o recorde, de 2017, foram 64.000 mortos).
“Os empresários não aguentam mais os impostos, nem as leis trabalhistas, nem a falta de colaboração das instituições financeiras”, recorda. “Foi também quando chegou a primeira grande depressão brasileira, o começo do caos na Venezuela, os problemas econômicos da Argentina e a crise política da Bolívia. Os empresários centrados no Mercosul passaram a procurar outros mercados.”
Quem assumir a presidência depois da eleição deste domingo, mais provavelmente o autoritário ultradireitista Jair Bolsonaro do que o professor universitário Fernando Haddad, assumirá também essa sangria de fortunas, e o desafio de freá-la. Dos brasileiros mais ricos, os que recebem mais de 8.641 reais por mês, 52% gostariam de ir embora do país, segundo a última pesquisa em que o instituto Datafolha abordou essa questão, em junho deste ano. E os ricos vão embora porque são os únicos que podem, mas não os únicos que deixariam com prazer de viver no principal país da América Latina: 56% dos universitários e 62% dos jovens de 16 a 24 anos também viveriam em qualquer outro lugar.
Para viver nos Estados Unidos, Roberto pediu um visto EB-5, geralmente associado às grandes fortunas. É concedido a quem investir meio milhão de dólares em um negócio que gere 10 empregos ou mais. “A cada trimestre dos últimos anos, o número de brasileiros que pedem o EB-5 dobrou”, diz Ariel Yaari, executivo da Driftwood, uma empresa norte-americana que se dedica exclusivamente a solicitar esse tipo de vistos para ricos brasileiros. “Sempre é pelo mesmo motivo: a falta de fé no futuro do Brasil e a percepção de insegurança. Depois, a imensa maioria fica no exterior. Acredito que só vi um caso de uma pessoa que voltou para o Brasil, e foi por uma questão familiar.”
A outra opção favorita é Portugal e a vida de parcimônia que a Europa oferece, ao contrário dos EUA. Esse país já tem 85.000 residentes brasileiros, e tudo indica que receberá mais. A uma semana e meia da eleição, seu consulado em São Paulo teve que fechar o guichê por causa da crescente demanda de solicitações de nacionalidade portuguesa por parte de cidadãos brasileiros.
Noticia10/ New World Wealth
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