Home Cidade e Região Minas Gerais Araçuaí: Lítio, A nova salvação do Vale do Jequitinhonha?
Minas Gerais - 14 de outubro de 2019

Araçuaí: Lítio, A nova salvação do Vale do Jequitinhonha?


Nilmar Lage,
A exploração do Lítio, que já é chamado de “petroleo branco”, tem sido usada como argumento para a “salvação” do “Vale da Miséria”, forma como é conhecida a região do Vale do Jequitinhonha, no nordeste de Minas Gerais. A mineradora Sigma, que está em processo de licenciamento para exploração em uma APA – Área de Preservação Ambiental da Chapada do Lagoão, alega investimentos na ordem de R$230 milhões para geração de 200 empregos na região entre os municípios de Itira e Araçuaí.
As riquezas minerais, culturais e sociais do Vale costumam ser subjugadas por interesses de uma minoria que concentra renda e posses na região, justificando investimentos que favorecem grandes fazendeiros e mantém a desigualdade. Em 1964, pouco antes do Golpe Militar no Brasil, argumento parecido de “redenção da miséria”, foi utilizado para a criação da CODEVALE (Companhia de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha). Implantada para evitar a reforma agrária proposta pelo governo João Goulart, a CODEVALE atendeu principalmente a demanda dos pecuaristas, favorecendo a criação expansiva de gado, gerando pouco emprego e mantendo a desigualdade.

Agora, chegou a vez da mineração “salvar o Vale da Miséria”. O mesmo modelo econômico que há anos vem causando inúmeros problemas no estado de Minas Gerais, desde o descaso com as comunidades do entorno dos empreendimentos, até crimes socioambientais como os casos das barragens de Fundão e Córrego do Feijão.

Em 2003, o preço da tonelada do lítio estava em US$ 1.500,00. Com a evolução tecnológica e a demanda cada vez maior, principalmente para produção de baterias capazes de alimentar os carros elétricos ou armazenar energia fotovoltaica que podem ter uso residencial, esse preço chegou a US$ 30.000,00 em 2016, e em 2018 caiu para US$ 20.000,00. Porém, com a previsão de aumento tanto da demanda para baterias de veículos (carros e ônibus) e a expansão do uso dos painéis solares em residência, e a necessidade de baterias de armazenamento da energia gerada, a tendência do preço da tonelada do metal é subir. A expectativa de produção da Sigma, a partir de 2020 é de 240 toneladas/ano.

Além de explorar o mineral na região, é discutido a construção de um parque para beneficiamento do lítio que demandaria, entre outras coisas mão de obra qualificada, o que atualmente praticamente não existe na região. Em um comunicado à imprensa a Sigma, que é uma multinacional inglesa, disse em um encontro entre políticos, empresários e alguns moradores, que ocorreu em Itinga-MG: “Esta reunião demonstrou o compromisso do governo brasileiro em apoiar a Sigma e o desejo de desenvolver um novo centro industrial sustentável de lítio no Vale do Jequitinhonha, uma das partes mais pobres do Brasil, e trazer para a população local empregos, oportunidades e desenvolvimento econômico”.

No mesmo comunicado, a Sigma destaca algumas condicionantes para a construção da zona industrial: “Entre as várias iniciativas discutidas estavam a construção de um gasoduto em uma parceria público-privada, uma conexão de rede ferroviária e a criação de mais incentivos comerciais, além daqueles disponíveis sob a iniciativa do SUDENE (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste).”

O Vale é a casa de um povo com identidade forte, de resistência e visão crítica diante da indústria da pobreza na qual é inserido. Assim, mais essa “salvação do Vale da Miséria”, não será acatada sem luta.
noticia10/ascom

Check Also

São Mateus: Há 20 dias das eleições, pesquisa aponta Carlinhos Lyrio como favorito para prefeito

Há 20 dias das eleições municipais, o candidato Carlinhos Lyrio (Republicanos) desponta co…