Amor entre primos: é arriscado gerar um filho desta relação?
O médico geneticista Osvaldo Artigalás conta que quando os pais são consanguíneos – ou seja, têm o mesmo tipo sanguíneo –, existe a maior probabilidade de criança desenvolver doenças genéticas que dependem de dois genes para se manifestar. Assim, quando o casal com características genéticas tão semelhantes “engravida”, isso fica mais fácil de acontecer. Ele frisa, no entanto, que isso não ocorre apenas em pares da mesma família. “As doenças genéticas podem ocorrer também em filhos de casais não-consanguíneo, a chance é apenas maior com casais consanguíneos”. Caio Robledo Quaio, também médico geneticista, conta que as condições mais comuns enfrentadas por filhos de casais com algum parentesco (lembrando que quanto mais longe, menores as chances de algum problema) são déficit cognitivo e erros inatos do metabolismo. “Os erros inatos do metabolismo são um grupo muito amplo de distúrbios metabólicos, em sua grande maioria de herança autossômica recessiva. Os sintomas da criança afetada são muito variados, dependendo do erro metabólico”, explica. Ele conta que, quando os pais são parentes, essas doenças têm risco de recorrência de 25%.
O doutor Artigalás destaca também que algumas síndromes comuns, como a de Down ou a de Klinefelter (que dá traços femininos aos homens) são erroneamente vistas como consequência do parentesco. De acordo com ele, esses são problemas ligados à divisão celular dos pais.
Caso extremo
Em alguns casos de criança gerada entre consanguíneos, diz a doutora Rossana Francisco, Coordenadora Científica de Obstetrícia da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo, pode ocorrer o aborto espontâneo. “Não necessariamente pelo parentesco, mas porque, dependendo da doença genética, a gestação seria inviável quaisquer que fossem os pais da criança”.
Como proceder
Para quem tem algum relacionamento com primo ou com alguém de mesmo tipo sanguíneo e quer ter filhos, os três profissionais fazem questão de destacar a importância de uma consulta com um geneticista. “Especialmente para mapear condições genéticas existentes na família, cálcular o risco de recorrência e, se possível traçar uma estratégia de prevenção”, orienta o Dr. Caio Quaio, já que as doenças que o futuro filho pode desenvolver, por serem genéticas, não possuem vacina ou cura. Ainda assim, há tratamento para que a criança tenha uma vida o mais normal possível. Os especialistas dizem ainda que se o primeiro filho tiver alguma doença como anemia falciforme ou fibrose cística, vale a investigação genética para prevenir algum problema nas próximas gestações. “Quando a gente sabe qual o risco, existem duas possibilidades: fazer o diagnóstico pré-natal ou o pré-implantacional. Com a fertilização in vitro, por exemplo, você pode fecundar vários óvulos, mapear os genes e descartar os que forem desenvolver a doença”, destaca Osvaldo Artigalás. “São inúmeras situações. Alguns exames, para as doenças mais comuns, como fibrose cística, existem na rede pública, mas com doenças mais raras a dificuldade é maior. Nesses casos, hospitais universitários costumam ser uma opção” completa.
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