Igreja UNIVERSAL estimula o empoderamento feminino em ambiente conservador.
Enquanto realizava o mestrado, e, em seguida, o doutorado, a antropóloga Jacqueline Moraes Teixeira, doutora em antropologia social e pesquisadora do Núcleo de Antropologia Urbana da USP, mergulhou em alguns projetos voltados para as questões de gênero e direitos reprodutivos dentro da Igreja Universal do Reino de Deus. Uma das maiores organizações religiosas do país, a Universal é o mais representativo grupo neopentecostal brasileiro, com mais de 6.000 templos e 1,8 milhão de fiéis por todo o Brasil segundo o Censo de 2010 do IBGE.
O interesse pela Universal foi despertado na pesquisadora e professora da Faculdade de Educação da USP quando ela encontrou uma série de textos publicados pelo bispo Edir Macedo, fundador da igreja, em defesa da descriminalização do aborto. A partir dali, Jacqueline mergulhou em alguns projetos de gênero, principalmente em defesa das mulheres, desenvolvidos pelo instituição religiosa, presente hoje em vários países. Nesta entrevista, a pesquisadora fala sobre como as questões como violência de gênero, aborto e divórcio são abordadas entre homens e mulheres na Universal e como os evangélicos se veem representados pelo Governo Bolsonaro.
Para Jacqueline, as meninas mais jovens têm a necessidade de se denominar feministas mesmo dentro da Universal, mas a questão é como isso vai sendo reconhecido pela liderança. “Você pode até ser uma feminista, mas dificilmente vai conseguir se casar com um pastor”. Por outro lado, esses projetos estão lidando com o empoderamento das mulheres. Na Universal, as mulheres mesmo não sendo reconhecidas como pastoras ou bispas, movimentam todos os projetos de gênero, que são os projetos mais importantes nesse processo de internacionalização, no processo de visibilidade, do que vai para a Record [canal do bispo Edir Macedo, líder da igreja] e o que não vai. Esses projetos relacionados a gênero foram praticamente todos fundados pela filha mais velha de Edir Macedo, Cristiane Cardoso, que apresenta um programa na TV Record junto ao marido dela que é bispo e hoje é o presidente da Record, Renato Cardoso.
É interessante perceber que é muito comum às mulheres atribuir muitas vezes à igreja seu processo de empoderamento, da mulher que consegue estudar mais, arranja um emprego melhor, melhor que do companheiro, que tem formação maior que a dele, que estuda mais. Elas estudam determinados cursos dentro da igreja, aprendem a guardar dinheiro, é como se a iniciação civil ocorresse na igreja, e não necessariamente na escola. Na Universal, se você quiser ter uma posição institucional, não pode deixar de estudar. E como as mulheres estão nas religiões, são maioria, e, de fato, são as que mais estudam no país, para muitas dessas mulheres esse processo de empoderamento e autonomia está muito atrelado à igreja.
Durante a pesquisa, um dos projetos estudados por Jacqueline foi o Raabe, que é o nome de uma prostituta do antigo testamento e é também o nome do grupo de atendimento de mulheres em situação de violência da Universal desde 2011. O foco é no atendimento jurídico e psicológico a quem não tem condições de pagar, além de cursos de cura emocional para mulheres vítimas de violência. A partir de 2013, o projeto começou crescer muito nos presídios femininos, e no ano seguinte ganhou um super reforço com uma madrinha nacional que é a Andressa Urach, vice-miss Bumbum que ficou doente [a apresentadora passou 25 dias na UTI em 2014 por uma infecção generalizada por causa do silicone que havia implantado na panturrilha] e se converteu à Igreja Universal.
De alguma maneira, ela retoma essa ideia da mulher que sofreu violência, abusos e se torna a grande madrinha das presidiárias e vai para os presídios de todo o Brasil lançando a biografia dela [Morri para ver, editora Planeta]. E essa resposta não emerge necessariamente da necessidade de se proteger a mulher como um sujeito civil, mas fundamentalmente do reconhecimento de que a família heterossexual, que é o bem que se deve defender, não é saudável. E que você precisa então transformar essa heterossexualidade numa coisa saudável.
Os primeiros textos de Edir Macedo sobre aborto mapeados por Jacqueline Moraes, foi em 2007. O que segundo ela não é necessariamente um princípio ético de defender o direito de a mulher de decidir. Existe uma questão teológica, da defesa de uma fé racional, em que o sujeito tem que estar no controle da sua vida. E aí entra o controle da natalidade, do casamento, das finanças. A defesa da descriminalização do aborto neste caso está ligada a um discurso econômico, de controle de natalidade. É daí que vem a discussão dos direitos reprodutivos, e entra o aborto, a pílula e vasectomia.
Na igreja universal, a Lei Maria da Penha vem sendo operada não como uma pauta feminista, mas como algo fundamental para assegurar a emergência dessa família heterossexual saudável. Foi nesse processo que Jacqueline Moraes encontrou os projetos da Damares Alves. A necessidade de se permitir o debate sobre gênero a partir da Lei Maria da Penha fez com que determinadas mulheres assumissem posições de poder principalmente nesse novo Governo e a Damares corresponde a essa ideia. Você traz para o religioso uma lei, um discurso jurídico e de alguma maneira coloca esse discurso jurídico como uma resposta religiosa à necessidade de se pensar uma família heterossexual saudável.
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