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Política - 15 de abril de 2019

“Perdemos a capacidade de discutir política e depois ir jogar futebol juntos”

Alguns entrevistados são apresentados pela forma como chegam ao encontro; outros, pela forma como vão embora. O professor Steven Levitsky (Princeton, Nova Jersey, 1968) faz parte do segundo grupo. Depois de mais de uma hora de conversa em um hotel no centro de Nova York, o cientista político pendura a mochila das costas e pergunta de um modo que parece completamente franco: “Então vocês queriam mesmo falar comigo?”. Há quem acredite que pode escrever um livro como Como as democracias morrem (Ed. Zahar), que fez tanto barulho, e que não será procurado por pessoas querendo lhe fazer perguntas.

Levitsky, doutorado pela Universidade de Stanford e professor de Governança em Harvard, é algo como um médico legista dos regimes políticos, tanto liberais quanto tirânicos. Dedicou boa parte de sua carreira ao estudo do autoritarismo e aos processos de democratização, à expectativa de vida dos regimes revolucionários, ao papel do populismo. Especialista em América Latina, é autor de várias obras sobre a região, apesar do título citado, coescrito com seu colega Daniel Ziblatt, oferecer um panorama global. Enquanto fala (em espanhol), é fácil imaginá-lo dando aulas como dá uma entrevista, abrindo muito os olhos e gesticulando sem parar, com as mangas da camisa soltas de forma anárquica.

Ninguém gosta de política, ninguém gosta das pessoas que estão no poder, seja na Suécia, seja na Finlândia, seja no Reino Unido… Esperamos muito dos representantes políticos, eles têm uma responsabilidade muito grande aos olhos do cidadão, e os políticos são medíocres. Buscam o poder, é seu trabalho, chegar ao poder e ficar. Isso soa mal. Além disso, têm de ser pragmáticos, adaptar-se. Dizem uma coisa na campanha, mas a situação muda, e têm de pactuar com a oposição, chegar a acordos que ninguém gosta.

Um Franco ou um Pinochet podem ser puros. Se você mata a oposição ou a manda para o exílio, pode se manter puro, mas na democracia é preciso sujar as mãos — não digo no sentido de corrupção — é preciso fazer acordos. Exceto em casos de democracias recém-nascidas, como a espanhola no fim dos anos setenta, os cidadãos não estão satisfeitos, não vamos encontrar uma democracia com décadas de vida na qual as pessoas estejam felizes com o sistema. Sempre reclamam.

noticia10/elpais

 

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