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Educação - 21 de junho de 2018

MG: Educação escolar resgata orgulho quilombola no Estado

Na pequena comunidade com ares de interior, as casas se organizam no entorno da Igreja de Nossa Senhora do Rosário – padroeira das quase 400 famílias que ali residem – e da rua principal, uma das únicas asfaltadas. Localizado na área rural de Santa Luzia, Território Metropolitano, o quilombo de Pinhões, batizado devido à abundância de árvores de pinhão no local, teve sua história iniciada no Século 18 e recebeu a certificação pela Fundação Palmares como comunidade quilombola no ano passado.

E é justamente o orgulho em ser reconhecida como remanescente quilombola que a Escola Estadual Padre João de Santo Antônio, uma das 29 escolas quilombolas do Estado (e a única escola pública dentro da comunidade), trabalha com os alunos. Eles começam desde os seis anos de idade a estudar o tema e sua importância histórica, conhecendo locais importantes da comunidade e seus significados.

“O MEC nos reconheceu como escola quilombola em 2011, mas o tema não era trabalhado porque não éramos orientados a isso e a comunidade mesmo ainda não tinha sido reconhecida. Os meninos não queriam trabalhar com isso. Para eles, ser descendentes de negros era questão de vergonha”, conta a diretora da escola, Paola Catharine Cordeiro Silva.

“Esse olhar diferenciado para a escola quilombola veio com a professora Macaé. Quando ela entrou na Secretaria de Educação, pudemos participar de cursos específicos, nos quais levamos professores, supervisor e até auxiliares. Foi muito bom, porque trocamos experiências e percebemos, inclusive, que fazíamos muita coisa errada. Passamos a trabalhar o tema o ano inteiro, e não só no Dia da Consciência Negra. E hoje os alunos já têm esse sentimento de pertencimento, de se entenderem como quilombolas”, completa Paola.

A educação escolar quilombola hoje comemora os avanços, mas começou a ter uma nuance diferenciada em Minas Gerais apenas em 2015, a partir da elaboração do primeiro diagnóstico institucional específico e da criação do Grupo de Trabalho da Educação Quilombola (GTEQ), pela Secretaria de Estado de Educação (SEE-MG). Na Escola Estadual Padre João de Santo Antônio, em Pinhões, após as resoluções, hoje são cinco professores quilombolas contratados – antes, eram três. E, desde o início deste ano letivo, todos os seis funcionários auxiliares (ATB e ASB) são da comunidade. Antes, apenas um era quilombola.

A aluna Tamara Leandra Celestino, 18 anos, conta que descobriu ser quilombola na escola. “Isso nunca foi abordado em casa. E é bem legal porque, ao invés de nossos pais passarem isso para a gente, é a gente que está passando para eles”, diz. “Quando eu fiquei sabendo que aqui era uma comunidade eu tive receio em aceitar, porque eu já era grande e não entendia muito do assunto. Hoje, se me perguntam de onde sou, eu já falo que sou de Pinhões, uma comunidade quilombola que fica em Santa Luzia”, completa.

Na mão contrária, Maria Paula Gonçalves, 17 anos, recebeu os primeiros ensinamentos sobre Pinhões com o pai, que é neto de escravos. “Tenho sobrenome de escravo, pelo menos é o que meu pai fala. Ele conta como foi a divisão para criar Pinhões, quais eram as fazendas que tinham escravos. Quais são os moradores daqui que têm algum parente que era escravo também… Ser quilombola, para mim, é fazer parte da história, porque a comunidade surgiu por causa dos escravos. Eles que vieram para cá e construíram as primeiras casas, para cuidar da terra dos seus senhores”, afirma.
Noticia10/agenciaminas

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