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Espírito Santo - 24 de outubro de 2016

Conceição da Barra: Quilombolas retomam mais um território que era ocupado pela FIBRIA no norte do Estado

Expulsos de suas terras há 50 anos, muitos quilombolas de Conceição da Barra, norte do Estado, passaram a habitar a periferia da cidade, tendo de se submeter a subempregos e com dificuldade de manter sua cultura tradicional. “São lutas pelas terras devolutas que foram invadidas pela monocultura do eucalipto de forma ilegal e de forma desordenada”, enfatiza o estudante universitário Diogo Gomes, uma das lideranças locais, ao falar de mais uma retomada de terras realizada no último final de semana no Córrego do Felipe.

A ocupação aconteceu logo após o corte do eucalipto pela Aracruz Celulose (Fibria) e conta com 24 famílias, cerca de 50 pessoas, que estão compartilhando uma área de aproximadamente 64 hectares, próxima à comunidade do Angelim, também quilombola. A retomada  a 11ª realizada no antigo território do Sapê do Norte, formado pelos municípios de Conceição da Barra e São Mateus, desde 2007.

No momento, as famílias estão retirando os restos de madeira e já realizando plantios com mudas frutíferas, que asseguram sombra para futuramente iniciar a agricultura de produção propriamente dita. A primeira construção será a da sede da Associação de Pequenos Produtores Quilombolas do Córrego do Felipe e, em seguida, as residências das famílias. A expectativa de melhoria de qualidade de vida é grande, por meio “da ressocialização das famílias, da agricultura familiar, da educação rural, do lazer, do turismo e da manutenção da cultura tradicional do povo”, elenca Diogo.

Nos estudos desenvolvidos pelo povo quilombola na luta pela recuperação de seu território, o estudante destaca a situação dos corpos d’ água. “Todos os córregos e nascentes da nossa região morreram. Estamos fazendo um dossiê pra informar a todos que o eucalipto tem acabado com a nossa água”, relata, destacando os córregos do Felipe, Santa Clara, São Domingos e Caboclo, além do próprio Rio Angelim. Mais um motivo, afirma o estudante, para trazer a agricultura familiar de volta. “O Rio Angelim foi de forma criminosa utilizado pela Disa [Destilaria Itaúnas S/A], que jogava nele os seus detritos de cana de açúcar. Hoje ele não tem mais água corrente”, denuncia.

A segurança patrimonial da Aracruz Celulose e a Polícia Militar já estiveram no local e fizeram Boletim de Ocorrência, em que consta que não houve nenhuma derrubada de madeira e que o movimento é pacífico. Os quilombolas do Córrego do Felipe estão aceitando doações de mudas de espécies frutíferas. “A luta não para!”, convocam.

noticia10/Fernanda Couzemenco

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