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Entretenimento - 16 de janeiro de 2015

Em filme, filho conta que Sabotage ouvia Sandy & Junior em casa

 

Após 12 anos de sua morte –que se completam no dia 24–, o rapper Sabotage é redescoberto no filme “Sabotage – O Maestro do Canão”. Dirigido por Ivan 13 P, o documentário não traz novidades sobre o assassinato, cometido por um “traficante inimigo”, supostamente incomodado com o sucesso e a exposição de Sabotage, mas dá pistas de que ele queria ter cruzado as fronteiras do rap e se tornado um artista popular.

A principal “revelação” do filme, no entanto, vem do filho, Wanderson Sabotinha: “Meu pai ouvia de tudo em casa. De Sandy & Junior a Iron Maiden”. E os amigos ouvidos no documentário confirmam que ele não tinha vergonha de ouvir Sandy.

Com o disco “O Rap É Compromisso!” lançado em 1999, e participação nos coletivos SP Funk e Instituto, Sabotage havia acabado de ser descoberto pela imprensa e pelo grande público quando morreu aos 29 anos, atingido por quatro tiros, em São Paulo. Mesmo sem nunca ter trabalhado antes como ator, ele atuou nos filmes “O Invasor” (2001), de Beto Brant, e “Carandiru” (2003), de Hector Babenco, nos papéis de um cantor de rap e de um presidiário, respectivamente, recebendo muitos elogios por seu trabalho.

No set, seu trabalho ultrapassava o roteiro. Dava dicas para o diretor e atores de como se portar diante de cenas baseadas em uma realidade que conhecia muito bem. Rappin Hood conta que o parceiro tentou encaixá-lo no filme de Babenco, e ele repreendeu o amigo, dizendo que não sabia atuar. “Claro que sabe atuar. Quem vive na favela, sabe fazer papel de ladrão”, respondeu Sabotage.

Os depoimentos e as imagens revelam um rapper completamente consciente de seu papel exemplar na favela, principalmente com as crianças da comunidade do Canão, cercada por torres e prédios comerciais no Brooklin, zona sul de São Paulo.

As rimas pesadas e cortantes criadas por Sabotage bebiam em muitas fontes. Além de se inspirar na realidade da favela, na fome que passou e na vivência no submundo do tráfico, Sabotage ouvia todo tipo de música. Pretendia regravar “Meu Guri” de Chico Buarque (“esse Guri sou eu”, dizia) e fazer uma parceria com Bezerra da Silva. João Gordo aposta: o rapper seria hoje alguém como Seu Jorge, “morando na gringa”. Era alguém que queria vencer na vida e ultrapassar as barreiras sociais e musicais com o rap –o que acabaria acontecendo com a geração de rappers que surgiu anos depois, da qual fazem parte Criolo e Emicida.

Os depoimentos no filme são por vezes mal gravados, mas preciosos. Mano Brown, do Racionais MC’s, se recorda de um diálogo com Sabotage em que discutiam até onde o rap poderia chegar na mídia. Brown se revelou contrário à ideia do amigo de ser um artista contratado de gravadora e achava que aquilo era uma forma de prostituição. “Ele disse que era isso mesmo. Era só chegar sorrindo para acontecer”.

Realizado pela 13 Produções, que finalizou o filme por meio de financiamento coletivo, “Sabotage – O Maestro do Canão” terá pré-estreia gratuita nos próximos dias 23 e 24 de janeiro, no Auditório do Ibirapuera, em São Paulo, com entrada gratuita. O lançamento nacional só acontece em março, também com exibições gratuitas nas salas da rede Espaço Itaú de Cinema.

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