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Entretenimento - 10 de outubro de 2014

Em fase “romântica”, Mano Brown recria bailes black com rap e melodia

 

Mano Brown está no palco. E ele está lotado. Ao seu lado, um DJ, quatro vocalistas de rap, dois dançarinos de street dance, um talentoso cantor de soul. No lugar da batida sorumbática dos Racionais, um groove que vai da disco à dance music, passeando pelo samba-rock e por baladas black. O discurso raivoso e politizado de outrora dá lugar a recados mais universais, de cunho sentimental. É o mano “paz e amor” – ainda que este seja um sentimento difícil, áspero, que não tem necessariamente final feliz.

Foi com essa a fórmula, inusitada e muito bem ensaiada, que× Brown apresentou pela primeira vez em× Paulo, na madrugada desta sexta (10), no Brook’s Bar –reduto sertanejo da zona sul da capital–, seu projeto solo o “Boogie Naipe”. “Essa é uma noite diferente. Vocês devem estar estranhando as músicas. É uma parceria nossa”, disse o vocalista, logo na abertura do show.

As novas músicas trazem um clima de baile black ao espetáculo, que ganha ares de mundo real quando acompanhado pelos versos na voz inconfundível do líder dos× Racionais. O projeto vem sendo produzido há três anos em parceria com o cantor e compositor× Krizz. Nas palavras do próprio× Brown, uma “visão da vida por parte de um mano que vive no limite e sempre está em busca do amor”.

Ainda que a descrição soe piegas, o show é “papo reto”. Rap e melodia convivendo em perfeita paz, com ligeiro destaque para as rimas. Ao vivo, faixas como “Amor Distante”, “Boa Noite SP” e “A Ilha” (cover de Djavan) causam estranheza mais pelo conteúdo das letras do que pela maneira doce de Brown cantá-las ou pelos novos arranjos sampleados.

A cadência clássica do hip-hop está lá, firme. O curioso mesmo é ver× Brown, com a roupa e trejeitos usuais, cantando e sendo amparado pelas temáticas da dor de cotovelo e do amor desiludido, do naipe de “sem ela eu não penso, sem ela eu não existo”.

Os rappers, claro, também amam. E sofrem. E, como antigos reverendos do gospel, buscam a redenção espiritual por meio da música. “Vocês não têm ideia de quantas coisas são feitas por amor, quantas pessoas estão presas por amor. Você tem que exorcizar”, diz× Brown em uma das breves interações com o público.

Sem panfletagem ou verborragia, a nova sonoridade mostrou vigor em cena, mesmo cativando pouco os presentes –entre eles, MC Guimê, no concorrido camarote VIP. Durante a maior parte da apresentação, o público esteve disperso, em clima aleatório de balada.

O jogo mudou, e muito, quando× Brown jogou com seu trunfo, seu repertório principal. “Mulher Elétrica” e, principalmente “Artigo 157”, dos× Racionais, causaram furor na plateia, que não chegou a lotar o Brook’s Bar. Natural para uma madrugada de quinta para sexta-feira.

“É bom fazer o que a gente gosta, cercado por quem a gente ama”, diz um calmo e suingado× Brown, antes de emendar “A Ilha”. “Todo o mundo precisa de um pouco de amor, de um baseado e de liberdade. É de liberdade que a gente precisa”, filosofou.

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