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Mulher - 9 de outubro de 2013

Síndrome de Otelo: como detectar o ciúme doentio na relação

 

“Otelo, o Mouro de Veneza”, é uma obra do dramaturgo inglês William Shakespeare que conta a história de um homem que ama demais sua esposa. Mas, consumido pelo ciúme desmedido por ela, ele acaba matando-a e descobrindo depois que ela não o havia traído como ele imaginara. A obra, escrita por volta de 1603, levou até as últimas consequências sentimentos como amor, traição e ciúme doentio. Sobre este ciúme patológico e derivado da obra de Shakespeare que surgiu o termo Síndrome de Otelo, uma doença onde há o ciúme patológico e paranóico que uma pessoa sente por outra.

O termo foi descrito em 1955 por neuropsiquiatras como um “complexo de pensamentos e emoções irracionais muitas vezes associado a comportamentos exagerados e violentos, derivados da exacerbada preocupação com a suposta infidelidade do parceiro baseada em provas inconsistentes e por vezes imaginárias”. O distúrbio, registrado no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), envolve emoções como dor, humilhação, raiva, tristeza, inveja, medo e pensamentos de culpa, comparação com o rival, autocomiseração.

Além disso, a Síndrome de Otelo envolve reações físico-psicossomáticas como um aperto no peito, sensação de taquicardia, sudorese, dores e reações comportamentais como ansiedade, agressividade, agitação ou até mesmo confusão mental. A psicóloga clínica Triana Portal, que atua há 15 anos como psicoterapeuta atendendo adultos e crianças, explica que o ciúme normal, o zelo, é sinal de amor, de que a pessoa tem importância. Mas, ressalta ela, o gerenciamento do ciúme e seu impacto no cotidiano é que difere de uma pessoa para outra.

“Há estudos indicando que o ciúme começa já nos primeiros meses de vida. O ciúme na infância nos ensina sobre os limites do mundo e trabalha o egocentrismo próprio dessa fase. O ciúme parental, fraternal, é um treino para o amor conjugal. O ciúme é uma emoção que mexe com questões de poder, competição, proteção, cuidado, auto sobrevivência. O ciúme não pode ser analisado e avaliado de forma isolada. Ele está relacionado com diversos fatores da vida da pessoa e recebe influência e trocas com o ambiente, moldando-se conforme a vivência de cada um”, analisa Triana.

A psicóloga ressalta que um dos sinais que indicam uma pessoa com Síndrome de Otelo é quando ela passa a deixar suas atividades habituais para controlar o outro e, assim, o ciúme se torna um vício. “O ciumento começa a procurar de forma compulsiva indícios de traição para confirmar seus anseios. Checam contas telefônicas, celular, cheiram roupas, telefonam inúmeras vezes ao dia para o parceiro ou parceira, ameaçam, se afastam do convívio social por achar que todos os indivíduos do sexo oposto querem tomar seu parceiro, contratam detetives, seguem, verificam bolsos, entre outras formas de vigilância”, esclarece Triana Portal.

“Ambos os sexos sentem ciúmes. A questão de gênero nesses casos só muda na atuação e reação, pautada por causas biológicas e culturais. O homem é naturalmente mais agressivo devido à testosterona e, consequentemente, mais propenso a crimes passionais”, avalia a psicoterapeuta. Já na avaliação da psicanalista Taty Ades, autora dos livros “Hades – Os homens que amavam demais” e “Escravas de Eros – Como reerguer sua autoestima”, a Síndrome de Otelo é uma doença masculina, embora as mulheres também sofram de amor patológico. “A diferença essencial é que quando a doença termina em tragédia como o descontrole emocional, brigas físicas e até a morte, a mulher é a maior vítima desse quadro”, opina Taty Ades.

A psicanalista explica que é comum encontrar pessoas com a Síndrome de Otelo que observaram pais que brigavam constantemente por ciúme. Ela diz que algumas pessoas podem ser tão controladoras que beiram ao psicótico, sentindo-se traídas o tempo todo e com a sensação de precisar desvendar o ‘crime da parceira’. “A doença é tão grave que muitas vezes nada se encontra de pistas, mas a pessoa segue rastreando senhas e celulares, seguindo, controlando locais e horários, fazendo da vida da parceira um verdadeiro inferno”, explica a psicanalista.

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